Pedro Araújo
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Nota breve sobre Filosofia da Comédia

07 de novembro de 2024

Pedro Araújo


O rir está nas máscaras, que apontam para o “rico” ou o “pobre”, ou seja, para certo indivíduo.

— O fundamento da risibilidade de algo consiste na passagem dos conceitos lógicos de um para certo, o que Henri Bergson explicara com a hipótese da ausência de naturalidade ou a mecanicidade mesma dos movimentos de certo indivíduo; ausência essa pela qual, neste sentido, um homem se torna a sua classe social ou a sua raça, e assim por diante, o que o populacho expressa no anexim: “Tinha que ser preto”, por exemplo. Com efeito, ainda que tal locução possa utilizar-se com intuito ofensivo, não é disso que se trata quando algum comediante a utiliza.

Note-se que todos os grandes comediantes da História, tal qual um Pedro Calderón de la Barba, dava atenção exclusiva até às classes sociais, de modo que em suas comédias, não era João Ferreira quem nelas participava, mas o “Enamorado” ou o “Rico”.

Sem o perceber, escrevi Pedro Calderón de la Barba, o que corrobora o que eu intencionava dizer: o homem não seria assim Sócrates, que tem barba, conquanto seria toda a sua barba, o só Barbudo, numa palavra, dando ensejo, sapiencialmente, para a máxima barba non facit philosophum ou para a observação crítica de Otto Maria Carpeaux: “Shakespeare ter sido representado como barbudo, nalgum quadro, é fruto da imaginação pequeno-burguesa”. Em comédia, porém, essa barba e o barbudo resultariam em tudo o que não haja em certo “filósofo”, se se fica na máxima latina. Aqui está a origem da comédia.

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Molière, do mesmo modo, partia destes pressupostos para escrever as peças “Les Femmes savantes”, “Le Bourgeois gentilhomme”, “Le Misanthrope”, “L’École des maris”, dentre outras.

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A passagem lógica de um homem para certo homem pode compreender-se com este exemplo: Se homem, não se pode concluir Henri Bergson. Mas se Henri Bergson, conclui-se homem.