Pedro Araújo
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A natureza da Lógica na obra de Santo Tomás de Aquino

07 de dezembro de 2024

Pedro Araújo


“A lógica dá seus primeiros passos com os filósofos pré-socráticos, especialmente com Heráclito e Parmênides, sendo que este estabelece que “necessário é pensar que só o ser é; pois o ser é, e o nada, ao contrário, nada é: afirmação que bem deves considerar”. A necessidade de um pensamento rigoroso está definida. Contudo, a grande virada lógica ocorreu com Sócrates, no seu exercício de aclarar os conceitos por meio da maiêutica, frequentemente em atitude crítica ao modo de argumentação aos que então exerciam a função pública de ensinar os jovens a argumentar. Platão seguiu o princípio socrático de investigação de uma arte que pudesse organizar o discurso de modo rigoroso, e em oposição àqueles que desenvolviam a arte do discurso sem compromisso com a verdade. Por isso vemos o grande mestre grego dissertar sobre esses temas nos diálogos Íon, Górgias, Fedro, Sofista.

Entretanto, foi Aristóteles que organizou a lógica como arte, techné, ficando definitivo o seu trabalho. Suas obras dedicadas à lógica formam o instrumento do pensar em suas múltiplas facetas argumentativas. Estas obras, reunidas então nesse Órganon do pensamento – Categorias; Sobre a Interpretação; Primeiros Analíticos; Segundos Analíticos; Tópicos; Refutações Sofísticas –, serão amplamente difundidas na Antiguidade e na Idade Média. Pensadores medievais, cristãos e não-cristãos.

Entre os últimos, encontramos Porfírio, e, entre os primeiros, Boécio e Pedro Abelardo, que contribuíram enormemente ao aperfeiçoamento das questões suscitadas pelas obras lógicas aristotélicas. Justamente no período medieval, a lógica tornou-se disciplina fundamental no ambiente universitário, então muitas vezes chamada de dialética. O próprio Santo Tomás de Aquino soube dela tirar seus melhores frutos.

Santo Tomás comentou as seguintes obras do Órganon de Aristóteles: Sobre a Interpretação, comentário intitulado In libros Perihermeneias expositio; e os Segundos Analíticos, intitulado In libros Posteriorum Analyticorum expositio.

Estas obras, de grande valor exegético e fundamentais para a compreensão do método científico e a compreensão de ciência em Tomás, não são, contudo, as únicas fontes para entendermos a concepção de lógica e de dialética presentes no extenso conjunto do corpus thomisticum.

Por isso, a obra que hoje temos em mãos facilita nossa investigação e esclarece de modo tão didático como erudito as complexas variações que o conceito de lógica sofreu desde seu início na Grécia antiga até Tomás de Aquino, no século XIII.

O autor deste encargo investigativo, Pedro B. Araújo, cuidou em ter presente não somente a variação do conceito de lógica tomasiano, mas também tratou de estabelecer o limite entre a dialética, outro termo extremamente complexo na história do pensamento ocidental, e o que chamamos de lógica em sentido estrito. Ao distinguir em Tomás uma lógica judicativo-resolutória; uma lógica dialético-inventiva; e uma lógica sofista, o autor remonta às ordens de argumentação definidos por Aristóteles, isto é, a argumentação apodítica, o ideal do conhecimento científico; a argumentação dialética, útil tanto ao desenvolvimento das habilidades lógicas do filósofo, como base para a argumentação retórica, a argumentação relativa a verdades contingentes; e a argumentação sofística, indutora do erro, conforme os princípios dos filósofos socráticos a que nos referíamos ao início.

Todo esse trabalho ingente empreendido por um professor e um investigador merece outra observação à que, por outro lado, já aludi: o caráter didático deste texto. A erudição e a complexidade da temática estão a serviço de um projeto que, em certo sentido, é maior, o que, na expressão de Tomás, consiste no ‘aliis tradere’, isto é, levar aos outros esta conquista árdua, resultado de muito tempo de meditação e investigação.”

Carlos Frederico Gurgel Calvet da Silveira
Membro da Academia Brasileira de Filosofia

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